sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Alcalóide tropânicos

INTRODUÇÃO
Alcaloides tropânicos apresentam em comum uma estrutura bicíclica, denominada tropano 8-metil-8-azabiciclo(2,3,1octano).O anel tropano é formalmente constituído pelos anéis pirrolidina e piperidina.Dependendo da orientação alfa e beta de um grupamento hidroxila na posição C-3,este fornece dois isômeros geométricos: tropanol (tropina) e pseudotropanol ( tropanol ou pseudotropina).
A esterificação do grupo hidroxila com ácidos aromáticos origina os alcaloides de maior importância farmacêutica e podem ser encontrados nas famílias Solonaceae (tipo atropina) e Erythroxylaceae (tipo cocaína). Os dois tipos de alcaloides são importantes na terapêutica atual e historicamente construíram os protótipos a partir dos quais foram desenvolvidos análogos sintéticos, principalmente das classes de fármacos anticolinérgicos e anestésicos locais.

 ALCALOIDES DE SOLANACEAE E ERYTHROXYLACEAE

Preparados de beladona já eram do conhecimento dos antigos hindus e tem sido usados pelos médicos por muitos séculos. Na época do império Romano e na idade média, era designada como planta da sombra da noite e frequentemente usada para envenenamentos. Como importância do grupo lembrar na terapêutica, é importante lembrar que os alcaloides tropânico derivados do tropanol inibem as ações da acetilcolina em efetores autônomos inervados pelos nervos pós-ganglionares colinérgicos. São conhecidos como substâncias antimuscarínicas ou bloqueadores de receptores muscarínicos colinérgicos. A cocaína só está presente em Erythroxylon coca Lam.e Erythroxylon novogranatense (Morris) Hieron.var.truxileense, com variedades domesticadas. As formas nativas das de hoje cultivadas não são mais conhecidas.


BIOGÊNESE
São conhecidas cerca de 40 alcaloides tropânicos, sendo em sua maioria derivados da pirrolidina como: higrina, cuscoigrina e os principais atropina, hiosciamina, escopolamina e cocaína.
A formação do anel pirrolidínico ocorre através dos aminoácidos arginina ou ornitina que formam o sal N-metil-delta1-pirrolíneo.Esse sal, por sua vez, responsável pelo átomo  de nitrogênio dos alcaloides, condensa-se com duas moléculas de ácido acético ativo ( acetoacetato ) formando o ácido cetocarbônico N-metil-delta1-pirrolíneo (I), completando, assim, o anel piperridínico que, por descarboxilição,forma a D-(+)-higrina(II).A partir da estrutura (I) pode-se formar a ecgonina ou o pseudotropanol,enquanto que a  partir da estrutura (II) pode-se formar o tropanol, ou ainda, os alcaloides menor importância como: higrolina e o bicíclico cuscoigrina. Pode-se observar, ainda, que a formação da hiosciamina, atropina, escopolamina e cocaína, tem a mesma origem biogenética e bem definida. A interconversão de bases tropânicas in vivo foi verificada em Datura ferox L.Alimentando a planta livre de alcaloides com 6,7 deshidroiosciamina, foi formada hioscina. Híbridos de Datura stramonium L. (contendo principalmente hiosciamina) e D.ferox L. têm no broto uma enzima que causa epoxidação e que está ativa durante todo o período vegetativo, a qual transforma a hiosciamina em escopolaminna.
Outro componente importante na biogênese dos alcaloides tropânicos é o ácido trópico (ácido alfa-fenil-beta-hidróxi-propiônico), que deriva da fenilalanina, através de uma desaminação oxidativa e deslocamento 2,3 do grupo carboxílico.Grande parte dos estudos recentes da origem biogenética do ácido trópico foi baseada em cultura de raízes. As culturas são obtidas por infecção da superfície ligeiramente danificada da folha ou do caule estéril de plantas produtoras de ácido trópico, como Datura stramonium L., com uma suspensão de bactéria patogênica, Agrobacterium rhizogenes. A bactéria insere nas células da planta uma pequena porção de DNA (Ri-DNA), o qual estimula a divisão celular, provocando a formação da raiz. As raízes emergentes podem ser removidas, tratadas por antibiótico, para eliminar as bactérias remanescente, e cultivadas em meio liquido estéril.




As culturas não são apropriadas para todos os estudos. Em Datura stromonium L., a escopolamina é o produto em maior quantidade na folhas, mais somente traços desse alcaloide são recuperados de cultura de raízes. Em outras espécies, como Hyoscyamus muticus L. ou um híbrido de espécies de Brugmansia, a escopolamina se acumula em cultura de raízes, como o alcaloide majoritário. O requerimento chave para o uso de cultura de raízes, é que esse tecido deve ser o local de biogênese do vegetal. Estudos em cultura de raízes demonstram que, apesar de fenilalanina, fenilpiruvato e fenillacetato serem incorporados na metade éster tropato de hiosciamina, (R)- fenil lactato é o estereoisômero utilizado durante a biogênese do éster trópico. Existem evidência de que o éster tropínico de (R)-fenilacetato, litorina, sofre rearranjo in vivo para hiosciamina. O esqueleto tropânico é originário de ornitina, acetato e metionina. Os quatros átomos de carbono, C1, C5, C6 e C7 e o átomo de nitrogênio da tropina derivam da ornitina. Os três átomos de carbono restantes, C2, C3 e C4 são provenientes do acetato.
Litorina e hiosciamina são encontradas conjuntamente em espécies de Datura e outras Solanáceas produtoras de alcalóides. Como verificado anteriormente, em diversos experimentos, houve indicação de que a litorina é um precursor da hiosciamina.
Segundo pesquisas estudaram a seleção natural dos dois alcalóides existentes em maior porcentagem nas folhas de Datura stramonium L. Existem evidências de que insetos herbívoros atuam como agentes de seleção para esses alcalóides. Foi verificada uma seleção natural negativa para escopolamina, isto é, a seleção natural atuando no sentido de diminuir o teor de escopolamina, e mantendo um teor intermediário de hiosciamina.
OCORRÊNCIAS E QUIMIOTAXONOMIA
Os alcaloides tropânicos de Datura (Datura stramonium L.) foram introduzidos na medicina européia por imigrantes romanos. A família Solanaceae é considerada o lar dos alcaloides tropânicos. As drogas contendo alcaloides tropânicos foram utilizadas por suas propriedades alucinógenas, incorporando-se no folclore como bruxaria. O maior espectro de alcaloides tropânicos é encontrado em representantes da tribo Datureae, nos gêneros Datura e Brugmansia. Atropa beladona L., pertencente a tribo Solaneae, é uma espécie muito estudada, possuindo como alcaloides principais hiosciamina, escopolamina e apoatropina. Apesar de o gênero Solanum não conter os alcaloides tropânicos usuais, a presença de calistegina A3 juntamente com calistegina B2 foi verificadas nas folhas de algumas de suas espécies, tais como Solanum tuberosum L., Solanum dulcamara L. e Solanum melongena L.
Os alcaloides do grupo da higrina, tropina, cuscoigrina e nicotina são bastante característicos da família Solanaceae. Em muitas espécies, após brotamento, pode haver transposição e transformação, como epoxidação. Em outras, os alcaloides encontram-se praticamente só nas raízes, indicando uma deposição nas mesmas ou uma decomposição no broto. De acordo com Shonle e Bergelson, os alcaloides tropânicos são sintetizados nas raízes e acumulados nos vacúolos.
Alcaloides tropânicos isolados de várias espécies das famílias Convolvulaceae, Dioscoreaceae, Erythroxylaceae e Solanaceae, exibem a mesma estrutura básica. Todos são ésteres de ácidos orgânicos (atrópico, benzoico, cinâmico, isovalérico, d-metilbutírico, tíglico, trópico, truxílico e verátrico) combinados com uma série de hidraminas bicíclicas (metilecgonina, nortropina, pseudotropina, escopina, tropina e outros). Esses alcaloides estão presentes em alguns dos 85 gêneros da família Solanaceae, destacando-se Atropa, Datura, Duboisia, Mandragora e Scopolia, sendo encontrados, porém, em menor números, nas famílias Erythroxylaceae, Convolvulaceae e Dioscoreaceae. Todas as espécies possuem misturas de alcaloides trpânicos, principalmente com hiosciamina e escopolamina, nas folhas e sementes, enquanto que as flores e raízes apresentam misturas mais complexas de ésteres tropínicos e de outros derivados tropânicos.
Hyoscyamus niger L. é vegeta-oficial em minutos países e conhecido há muito como espécie contendo hiosciamina e escopolamina. Hyoscyamus muticus L., que contém uma teor mais elevado de alcaloides, principalmente hiosciamina e tetrametilputrescina, também é utilizado farmaceuticamente. Todas as espécies estudadas do gênero contém hiosciamina e escopolamina em folhas e sementes.
A literatura sobre química, biogênese, fisiologia e farmacologia de Solonaceae, contendo alcaloides tropânicos e nicotínicos é muito ampla, encontra-se literatura específica em Hegnauer.
O gênero Erythroxylon possui cerca de 200 espécies, distribuídas nas regiões tropicais da América do Sul e da ilha de Madagascar. A cocaína encontra-se nas folhas de Erythroxylon coca Lam e nas variedades domesticadas como a var. spruceanum Bruck, também conhecida como coca-do-eru ou coca-de-java e em Erythroxylon novogranatense (Morris) Hieros var.truxillense, denominada coca-da-colônia (coca–truxilo).
Defesas químicas em insetos, particularmente lepidópteros, contra predadores, têm sido observada desde o século XIX. Substâncias como alcaloides tropânicos podem ser sequestrada da planta hospedeira larval, obtidas de fontes vegetais visitadas por adultos ou biossintetizadas de novo. Alcaloides tropânicos foram encontradas em larvas e adultos de Placidula euryanasa, tenso sido sequestrada da planta hospedeira das larvas, Brugmasia suaveolens. A larva de Miraleria cymothoe, que se alimentava do mesmo hospedeiro, excreta aqueles alcaloides.







PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICA E QUÍMICA
            Entre os alcaloides das Solanáceas destacam-se, pela importância terapêutica atual, a escopolamina e a hiosciamina. Esta é o isômero levórigo formando a partir do ácido (-) trópico. A atropina é o composto racêmico, isto é, (RS)-hiosciamina, que par
ece não existir na planta fresca. Durante a colheita, secagem e, principalmente, extração, a (RS)- hiosciamina transforma-se facilmente em atropina, a qual, por sua vez, pode ser transformada em apoatropina, pela perda de uma molécula de água. Embora possa ser obtida por síntese, a atropina ainda é obtida a partir de fontes naturais. Na forma de base livre, é obtida como cristais incolores e apresenta baixa solubilidade em água, sendo solúvel em etanol e em clorofórmio. Apresenta reação alcalina em soluções saturadas, alcançando PH 9,5. A base livre é utilizada em veículos oleosos, no entanto, devido a melhor solubilidade e estabilidade, é utilizada, principalmente, na forma de sulfato. Este é preparado neutralizando atropina,em acetona ou éter, como solução de H2S04, cuidadosamente, para prevenir a hidrólise.
            A escopolamina é o estereoisômero levorotatório, isto é, (S)-(-) escopolamina (hiosciamina); em meio alcalino ocorre a racemização, resultando na mistura denominada atroscina. A tendência a racemização, no entanto é menor do que com a hiosciamina. Na forma de base livre, é um liquido viscoso solúvel em água. Forma um mono-hidrato cristalino, de ponto de fusão 59ºC. É utilizada também na forma de bromidrato e butilbrometo.







EXTRAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS ALCALOIDES
            Os alcaloides tropânicos são muito semelhantes nas suas características físico-químicas. Por serem animais terciárias, possuem um comportamento semelhante ao da maioria das alcaloides, ou seja, são solúveis, como base livres, em solventes apolares e, na forma de sais, em solventes polares. É conhecido que os alcaloides, de maneira geral, encontram-se no vegetal fresco, combinados como ácidos fracos, portanto, solúveis em água. A transformação sal-base é o processo mais comum utilizado para purificação inicial, objetivando a determinação qualitativa e quantitativa. Caso os alcaloides tropânicos sejam extraídos como bases livres a partir dos sais, não devem ser adicionadas bases fortes, pois os ésteres podem ser saponificados ou ainda, podem provocar racemização, como na hiosciamina, transformando-a em atropina.
            A extração por fluido supercrítico é um método bastante utilizado para a extração de metabólitos secundários, a partir de matrizes sólidas, como material vegetal. Representa uma alternativa para a extração sólido-líquido tradicional, como por Soxhlet, com menor consumo de solvente e temperatura. A cocaína já foi extraída por fluido supercrítico em amostras de cabelo. Brachet et al.(1999) utilizaram a extração por fluido supercrítico, como modificador polar, para obtenção de hiosciamina e escopolamina a partir de cultura de raízes de Datura candida (Pers.) Saff. X Datura aurea (Lagerh.) Saff.  E de cocaína, a partir de Erythroxylon coca Lam. Var. coca.
            Para a detecção de cocaína pode ser realizada um reação de coloração com tiocianato de cobalto. Uma solução de Co(CNS)2 a 2% em glicerina-água desenvolve uma coloração azul.       Existem métodos biológicos, que entretanto são pouco utilizados na rotina da indústria farmacêutica. A midríase é característica dos alcaloides tropânicos, sendo que uma quantidade de 0,002 mg de atropina, injetada subcutaneamente em camundongos, provoca dilatação da pupila.



ATIVIDADES FARMACOLÓGICAS E BIOLÓGICAS
            Os alcaloides da beladona são absorvidos rapidamente a partir da trato gastrointestinal. Penetram na circulação sanguínea quando aplicados topicamente nas mucosas. Na pele intacta sua absorção é apenas limitada. A maior parte da atropina é excretada na urina nas primeiras doze horas após sua administração, em parte, inalterada, no entanto, os efeitos oculares podem persistir por alguns dias.
            Os alcaloides tropânicos inibem as ações da acetilcolina em efetores autônomos inervados pelos nervos pós-ganglionares colinérgicos, bem como na musculatura lisa, que é desprovida de inervação colinérgica. Os agentes muscarínicos, de maneira geral, têm pouco efeito sobres as ações da acetilcolina em receptores nicotínicos. Na junção neuromuscular, na qual os receptores são nicotínicos, são necessárias doses extremamente altas de alcaloides tropânicos para produzir algum grau de bloqueio. É provável que a maioria dos efeitos dos alcaloides tropânicos no SNC em doses usuais seja atribuível ás suas ações antimuscarínicas centrais. Em doses altas ou tóxicas, os efeitos centrais dos referidos alcaloides consistem, em geral, de estimulação seguida por depressão. Pequenas doses deprimem as secreções salivar, brônquica e as sudoreses. Com doses maiores, há dilatação da pupila, a capacidade de acomodação do olho é inibida e os efeitos vagais sobre o coração são bloqueados, o que ocasiona o aumento da frequência cardíaca. Doses maiores inibem o controle parassimpático da bexiga e do trato gastrointestinal, dificultando a micção e diminuindo o tônus muscular e a motilidade intestinal. Doses ainda maiores são necessárias para inibir a secreção e a motilidade gástrica.
           





As ações antimuscarínica da atropina e da escopolamina diferem quantitativamente. A escopolamina tem ação mais potente sobre a íris, o corpo ciliar e certas glândulas secretoras (salivares, brônquicas e sudoríparas), sendo a atropina mais potente no coração, nos intestinos e músculos bronquiolares, além de ter ação mais prolongada. No entanto, a ação no sistema nervoso central é marcadamente diferenciada: enquanto a escopolamina provoca depressão, a atropina não deprime o SNC em doses usadas clinicamente, portanto, é preferida á escopolamina na maioria das situações. Quando algum efeito central não é desvantajoso ou, até mesmo, desejável, como em medicação pré-anestésica, a escopolamina é frequentemente administrada.
            A atropina, no SNC, estimula a medula espinal e os centros cerebrais superiores. A escopolamina, em doses terapêuticas, normalmente causa sonolência, euforia, amnésia, fadiga e sono sem sonhos. As substâncias atropínicas dilatam a pupila (midríase) e paralisam a acomodação (cicloplegia).
            Drogas antimuscarínicas têm sido amplamente empregadas no tratamento da úlcera péptica. Aparecem como efeitos colaterais secura da boca, perda de acomodação visual, fotofobia e dificuldade na micção. É difícil estabelecer a utilidade dos antimuscarínicos no tratamento da úlcera péptica.
            Os alcaloides tropânicos e seus substitutos sintéticos reduzem a salivação excessiva, como a associada ao envenenamento por metais pesados ou parkinsonismo.
           
          
EMPREGO FARMACÊUTICO
            Medicamento contendo alcaloide tropânico são utilizados para diminuição de cólicas nos ureteres e aquelas provocadas por cálculos renais; em espasmos brônquicos, nos caso de asma brônquica. São também utilizados em espasmos do trato gastrointestinal, portanto, contra cólicas e em hipersecreção gástrica. Esse grupo de substância também tem uso como anestésico local, por atuar na dessensibilização das terminações nervosas. Em função de sua ação antiespasmódica, os alcaloides tropânicos são utilizados em colites e gastroenterites. A ação antissecretora permite o uso na redução da secreção respiratória, como medicação pré-anestésica, e das secreções nasais, em alergia. Também são utilizados como antídotos em envenenamentos por inibidores da colinesterase, como por inseticidas organofosforados e carbamatos. A par da utilização dos alcaloides isolados, principalmente atropina e escopolamina e seus derivados semissintéticos, existe um número significativos de produtos contendo extratos vegetais das plantas desse grupo. Especificamente como a beladona, no Catálogo Brasileiro de Produtos Farmacêuticos, da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, editado em 1984, eram mencionados 248 produtos.
            O sulfato de atropina é um sal solúvel, disponível sob as formas de comprimidos, solução injetável e solução oftálmica. A dose média, por via oral ou parenteral de sulfato de atropina, para adultos, é de 0,5 mg. A escopolamina é comercializada sob a forma de sal solúvel, o bromidrato de escopolamina; a dose para adultos, por via oral ou parenteral, é de 0,6 mg. A escopolamina também pode ser usada sob a forma de solução oftálmica.
            Existem observações clínicas de que os compostos de amônio quaternário têm efeito relativamente maior na atividade gastrointestinal e que as doses necessárias para tratar distúrbios do tudo digestivo são, portanto, mais facilmente toleráveis; esse fato deve-se ao bloqueio ganglionar adicional. Tanto os alcaloides de amônio quaternário, como a atropina, não produzem controle adequado da secreção gástrica ou da motilidade gastrintestinal, em doses que não apresentam efeitos colaterais significativos, por bloqueio muscarínico. A cocaína atualmente só é utilizada terapeuticamente como anestésico local.
 DROGAS VEGETAIS
BELADONA
Nome científico: Atropa beladona L.
Família botânica: Solanaceae
Parte usada: folhas e sumidades floridas
Monografias farmacopeias: está escrita nas Farmacopeias de praticamente todos os países; a Ph. Eur. III e as farmacopeias de países europeus apresentam também monografia para o pó normatizado das folhas.
A beladona provavelmente já era conhecida pelos povos antigos, não existindo relatos exatos até o início do Século XVI. As folhas foram introduzidas na London Pharmacopeia de 1809. O nome Atropa lembra uma das parcas da mitologia grega, que era encarregada de interromper o fio da vida dos mortais e a designação popular Bella Donna, vem da Itália, onde as mulheres utilizavam o sumo dos frutos que, por serem midriáticos, aumentavam o tamanho da pupila, tornando-as mais bonitas.
Atropa beladona L. é um arbusto perene, com 0,5 a 1,5 m de altura, existente principalmente na Europa Central e Sul. O cultivo ocorre principalmente na Alemanha, Inglaterra, Índia e Estados Unidos.
A droga da Farmacopeia Brasileira consiste de todas as partes aéreas, mas Ph. Eur. III estabelece um limite máximo de 3% de caules de diâmetro maior que 5 mm, enquanto que a USP 23 admite o mesmo percentual, mas para caules com diâmetro maior que 10 mm. Esta última também admite Atropa acuminata Lindl. Na monografia de folhas de beladona e exige 0,35% de alcaloides, enquanto a Farmacopeia Brasileira e Ph. Eur. III determinam um teor mínimo de 0,3% de alcaloides totais calculados como hiosciamina. Tanto a Ph.Eur. III como a USP 23 incluem monografias para o pó normatizado das folhas, com teor de alcaloides totais entre 0,28 e 0,32%. Raízes também estão inscritas em algumas farmacopeias. As raízes do primeiro ano não devem ser coletadas, porque não são comercialmente viáveis, apesar de terem um teor elevado de alcaloides, sendo recomendada a coleta a partir do terceiro ano.
Dados químicos:
As folhas de Atropa belladona L. contêm em média 0,30 a 0,50 % de alcaloides, sendo o principal hiosciamina. Pequena quantidade de bases voláteis, como nicotina, piridina e N-metilpirrolina estão presentes, bem como glicosídeos flavônicos e as cumarinas escopoletina e escopolina. São encontrados, também, higrina, higrolina, cuscoigrina, tropinona, tropina, pseudotropina e nove ésteres de tropanol.  Além destes, encontra-se beladonima (um produto de degradação, derivado da condensação da apoatropina). A relação hiosciamina-escopolamina é de 20:1, sendo as folhas de beladona pobres em escopolamina, o que as diferenciam do estramônio e meimendro, que possuem um teor maior em escopolamina.
Dados farmacológicos e toxicológicos:
            A droga, tanto partes aéreas como raiz, tem ação antiespasmódica sobre a musculatura lisa do TGI, vesícula biliar e bexiga, além de diminuir as secreções. Em doses elevadas é estimulante do SNC, podendo induzir o indivíduo ao coma profundo. A ação estimulante sobre o SNC deve-se ao maior teor de hiosciamina em relação á escopolamina.
            A beladona é conhecida como uma espécie altamente tóxica, tendo sido empregada como veneno desde de tempos antigos. Todas as partes da planta devem ser consideradas tóxicas. No entanto, as intoxicações de modo geral ocorrem pela ingestão dos frutos pretos, atraentes e de sabor doce, principalmente pelas crianças, para as quais 3 a 4 frutos são considerados letais.

Efeitos adversos e precauções de uso:
            Como os alcaloides tropânicos têm ação anticolinérgica, em qualquer efeito desejado, poderão ocorrer as outras ações do simpático como efeitos colaterais.
            A droga e suas preparações são contraindicadas em taquicardia, arritmias, adenoma de próstata, glaucoma, edema de pulmão, estenose no trato gastrintestinal e megacolon. Com efeitos colaterais surgem secura da boca, diminuição das secreções sudoríparas, dificuldade de acomodação visual, vermelhidão e secura da pele, hipertermia, taquicardia, dificuldade de micção, alucinações e câimbras (principalmente em sobredose).

 ESTRAMÔNIO
Nome cientifico: Datura stramonium L.
Família botânica: Solanaceae
Parte usada: folhas e sumidades floridas
Monografias farmacopeicas: está inscrita nas Farmacopeias de praticamente todos os países; a Ph. Eur. III e as farmacopeias de países europeus apresentam também monografia para o pó normatizado das folhas.
            Datura é um gênero com cerca de 11 espécies, originárias da América Central. Algumas espécies são utilizadas como alucinógenas, especialmente em ritos mágicos e religosos, por indígenas americanos.
            Datura stramonium é um arbusto ruderal anual, crescendo em solos ricos em nitrogênio, atingindo uma altura de até 2 m, originário da América Central, provavelmente do México, encontrando-se assilvestrado na Europa e nas Américas. No Brasil recebe as denominações populares estramônio, figueira-do-inferno, erva-do-diabo e figueira-brava. A maioria da droga vem hoje da Rússia e dos países balcânicos. São utilizadas as seguintes variedades, consideradas de teor equivalente em alcaloides:
            Datura stramonium var. stramonium, de flor branca e fruto espinhoso;
            Datura stramonium var. tatula (L.) Torr, de flor violeta e fruto espinhoso;
            Datura stramonium var. inermis (Jacq.) Timm, de flor branca e fruto liso;
            Datura stramonium var. godroni Danert, de flor violeta e fruto liso. A droga possui odor fraco, desagradável e sabor amargo.

Dados químicos:
            A droga (folhas de estramônio) não deve conter menos de 0,25% de alcaloides, calculados em hiosciamina.
            O estramônio contém, em média, o,2 a 0,6% de alcaloides, sendo que a proporção entre os principais alcaloides hiosciamina e hioscina (escopolamina) é de 2:1. Os caules maiores contêm pequena quantidade de alcaloides, sendo que a droga oficial não deve conter mais de 3% de caules com mais de 5 mm de diâmetro. Sementes de estramônio contêm cerca de 0,2% de alcaloides tropânicos e aproximadamente 15 a 30% de óleo fixo. De acordo com Ph.Eur.III, o pó final deve ser ajustado para um teor de alcaloides de 0,23 a 0,27%.

Dados farmacológicos e toxicológicos:
            Em função da presença dos mesmos alcaloides, hiosciamina e escopolamina, as ações da droga são semelhantes ás referidas para a beladona.
            Intoxicações acidentais são de ocorrência rara, por não serem os frutos e folhas de aspecto atraente, ocorrendo, no entanto, pelo uso intencional para suicídio ou envenenamentos ou ainda como alucinógenos. Em função das presença dos alcaloides hiosciamina e escopolamina, os sintomas de intoxicação.

 TROMBETEIRA
Nome científico: Brugmansia suaveolens
Sinonímia científica: Datura suaveolens
Família botânica: Solanaceae
Parte usada: folhas
Brugmansia suaveolens é uma espécie originária da América do Sul tropical, sendo conhecida em cultivo e utilizada no Brasil como ornamental. É conhecida como trombeteira-cheirosa, cartucheira, sai-de-velha, trombeta e saia-branca, sendo considerada como uma fonte potencial de alcaloides tropânico.
O teor de alcaloides tropânico varia de 0,36 a 0,56%. Como o teor de escopolamina é bem maior que o de hiosciamina, todas as ações farmacológicas e tóxicas serão devidas àquele alcaloide, os efeitos são os mesmos relatados para Datura stramonium L.

 MEIMENDRO
Nome científico: Hyoscyamus niger L.
Família botânica: Solanaceae
Parte usada: folhas e sumidades floridas
            O meimendro já era conhecido por Dioscórides e utilizado pelo antigos. A espécie era empregada contra dores do trato gastrintestinal e na antiga Babilônia. Depois de um período de esquecimento, no século XVIII a droga foi reintroduzida na London farmacopeia, de 1809. No Brasil, recebe as denominações populares meimendro-negro e erva-dos-cavalos. A espécie é uma erva anual ou bianual, nativa na Europa, Ásia e Norte da África; Também largamente cultivada e naturalizada em partes da América do Norte é empregada principalmente em espasmos do trato gastrintestinal, sendo os efeitos indesejados e precauções semelhantes aos apontados para a beladona.
Dados químicos:
            De acordo com a Ph. Eur. III, folhas do meimendro devem conter no mínimo 0,05%, e o pó normatizado entre 0,05 e 0,07% de alcaloides totais, predominando hiosciamina e escopolamina. A relação entre os dois alcaloides é de ordem de 1,2:1. Estão presentes flavonoides, principalmente rutina e cerca de 8% de taninos.
Dados farmacológicos e toxicológicos:
            O meimendro é semelhante a beladona e o estramônio em sua ação, porém mais tênue, devido ao menor teor de alcaloides tropânico. Intoxicações são relatadas, em crianças, mais menor frequência em relação a á beladona, porque a planta é, em geral, evitada pelo seu odor e consistência desagradável.

 COCA
Nome científico: Erythroxylon coca Lam. E Erythroxylon novogranatense
Família botânica: Erythroxylaceae
Parte usada: folha
            Erythroxylon coca Lam. É a fonte da folhas de coca comercial de onde toda cocaína é derivada. O cultivo ocorre nas zonas montanhosas do leste dos Andes, praticamente não existindo fora dessa região, em um ambiente tropical favorável, com alto índice pluviométrico, clima ameno e solo rico em minerais e muito bem drenado. A coca andina é cultivada a partir de sementes e as folhas são coletadas a pós dois a três anos. As folhas contêm entre 0,23 e 0,96% de cocaína. A coca colombiana, Erythroxylon novogranatense, adapta-se a locais quentes e secos e de menor altitude. O teor médio de cocaína de coca colombiana é de 0,47%. A sua variedade constitui a coca-de-trijillo, existente no comércio, e está bem adaptada a condições de deserto. Suas folhas contêm até 1% de cocaína, sendo ricas em salicílato de metila, o que torna essa variedade muito agradável em bebidas. A coca-da-Amazônia, Erythroxylon coca Lam, ocorre no Oeste da Amazônia, sendo cultivada e utilizada por grupos nativos do Peru, Brasil e Colômbia.
            A importância dessas espécies e variedades está relacionada com a presença da cocaína a qual foi isolada pela primeira vez por Niemann em 1860, que notou um sabor amargo e um efeito particular na língua tornando-a insensível e quase destituída de sensação. E de se registrar que a Coca-Cola e algumas outras bebidas continham cocaína até 1904, quando o uso da mesma foi proibido

Dados químicos:
            A espécie Erythroxylon coca Lam, contêm 0,2 a 0,8% de alcaloides sendo 90% cocaína. Esses alcaloides podem ser subdivididos em três, destes, somente a ecgonina possui importância comercial.
            A extração da cocaína segue basicamente os métodos de extração dos alcaloides. Obtêm-se a pasta de coca e a cocaína pura, através de etapas subsequentes de purificação. Para identificação da cocaína pode ser utilizada a reação de tiocianato de cobalto e a hidrólise me meio ácido, quando ocorre a formação de ácido benzoico, comprovado após sua cristalização em meio aquoso e benzoato de metila, detectado pelo odor. Como ensaio de pureza, as farmacopeia preconizam a verificação da presença do enantiômero levogiro, através da determinação da rotação específica e verificação da presença de cinamoilcocaína, através de teste para compostos redutores (solução de permanganato de potássio). Este permite detectar, também, anestésicos locais sintéticos derivados do ácido 4-aminobenzóico, eventualmente utilizados como adulterantes da cocaína.
 Dados farmacológicos:
            A cocaína é absorvida de todas as membranas e mucosas. A meia vida da cocaína no plasma é de, aproximadamente 1 hora. Aplicada localmente localmente, bloqueia o início da condução do impulso nervoso. A diminuição do apetite também se deve a ação anestésica local.
             A cocaína é um estimulante potente do sistema nervoso central, os seus efeitos estimulantes estão relacionados a sua habilidade de inibir o transportador da dopamina, ligado a membrana (DAT). Ela inibe a monoaminoxidase (MAO), aumentando a noradrenalina e a serotonina, causando, portanto midríase e vasoconstrição periférica, mantendo o anestésico mais tempo no local.     
            Além das ações citadas, a cocaína inibe a recaptura de catecolaminas nas terminações adrenérgicas; Esse processo é o principal responsável pela estimulação do sistema cardiovascular e do SNC. No início ocorre uma sensação de bem estar e euforia. Após pequenas quantidades de cocaínas, a atividade motora é bem coordenada; com o aumento da dose podem ocorrer tremores e crises convulsivas. O centros vasomotor e do vômito podem também participar da estimulação provocando emese. Dose de 50mg de cocaína, por via oral, já provoca alucinações que rapidamente é seguida por depressão. Os centros medulares vitais são deprimidos, resultando em morte por insuficiência respiratória

 Dados toxicológicos e outras informações:
            A cocaína por via endovenosa pode causar morte imediata por insuficiência cardíaca, devido a ação tóxica direta sobre o músculo cardíaco.
A absorção da cocaína aumenta na presença de processos inflamatórios, havendo uma acentuação dos efeitos sistêmicos do fármacos. Após a absorção a cocaína é degradada pelas esterases plasmáticas e, em alguns animais, pelas enzimas hepáticas. Pequenas quantidades são excretadas inalteradas na urina em doses elevadas ocorre paranoia, ansiedade, comportamento estereotipado, alucinações visuais, auditivas e táteis.
            A par da importância cultura e como droga de abuso neste século, historicamente a cocaína exerceu papel decisivo para o desenvolvimento dos medicamentos anestésicos locais, constituindo-se em protótipo dessa classes de fármacos. Atualmente, o uso da cocaína e seus sais, devido á potencial toxicidade e à disponibilidade de anestésicos locais de menor risco, está quase que completamente restrito à cirurgia oftálmica, de ouvido, nariz e garganta, e ainda assim, restrito devido ao potencial de abuso.

 REFERÊNCIAS
BRACJET, A.; MATEUS, L., CHERKAOOUI, S.; CHRISTEN.P.; GAUVRIT, J.-Y.;
LANTÉRI, P.; VEUTHEY, J.-L. Apllication of central composite designs in the supercritical fluid extraction of tropane alkaloids in plant extracts. Analysis, v. 27, p. 772- 778, 1999
CUSIDO, R.M.; PALAZÓN, J.; PIÑOL, M.T.; BONFILL, M.; MORALES, C. Datura metel: in vitro production of tropane alkaloids. Planta Medica, v.65, p. 144- 148, 1999
DURAN-PATRON, R.; O’ HAGAN, D.; HAMILTON, J.T.G.; WONG, C. W. Biosynthetic studies on the tropane ring system of the tropane alkaloids from Datura stramonium. Phytochemistry, v. 53, p. 777- 784, 2000.
EVANS, W.C. Trease and evans’ pharmacognosy. 14.ed London: W. B Saunders, 1996. p. 340- 408.



           






             

           

           







quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Alcalóides Indólicos

1. INTRODUÇÃO
Atualmente, são conhecidos em torno de 2000 alcaloides indólicos. Essa classe de compostos pode ser subdividida em dois grupos: o grupo maior com alcaloides conhecidos como indólicos monoterpênicos, e outro, como os demais alcaloides indólicos. Os primeiros são, na maioria das vezes, derivados de triptamina e do monoterpeno (iridóide) secologanina. Apesar de quase todos os membros desse grupo serem derivados desses dois compostos, diversos rearranjos do esqueleto original resultaram numa enorme variedade estrutural, com grande numero de centros assimétricos. Consequentemente, a síntese desses compostos continua sendo um desafio e quase todos os membros desse grupo na terapêutica ainda são obtidos a partir de extratos vegetais. A ocorrência desse grupo de alcaloides estar limitada a semente algumas famílias especificas.
O grupo menor é muito heterogênio e, com isso, tem ocorrência dispersa e menos característica do ponto de vista quimiossistemático. Estão enquadrados nesse grupo os derivados simples do triptofano, como a triptomina e a serotonina e também os derivados humanos, que contém mais um anel.
2. CLASSIFICAÇÃO
Os alcaloides indólicos podem ser classificados de acordo com as características de seu esqueleto, que está diretamente relacionado à sua biogênese.
Em 1965 quando era conhecido em torno de 350 alcaloides indólicos monoterpênicos, Le Men e Taylor propuseram um sistema de numeração para esses compostos baseados na sua biogênese sendo, hoje em dia, sistema de numeração aceito. A numeração baseia-se no esqueleto da ioimbina.
3. BIOGENÊSE
O sistema indólico é derivado do aminoácido L-triptofano. O L-triptofano é descarboxilado pela enzima triptofano-descarboxilase formando triptamina. A triptamina, bem como seus produtos de metilação e hidroxilação, é amplamente distribuída no reino vegetal.
Alcaloides indólicos monoterpênicos são, quase sempre, produtos de condensação da triptamina com o secoiridóide secologanina, que é formado a partir do monoterpeno pirofosfato de geranila.
Varias enzimas que participam da biogênese dos alcaloides indólicos foram estudadas em detalhe, a triptofano-descarboxilase (TDC) de várias espécies foi isolada e caracterizada. Essa enzima contem 500 aminoácidos possuindo uma massa molecular em torno de 56 kDa.
4. QUIMIOTAXONOMIA
A maioria dos alcaloides indólicos são encontrados em três famílias da ordem Gentianales: Loganiacae, Apocynaceae e Rubiaceae. Nessa ordem são encontrados principalmente alcaloides indólicos monoterpênicos. A ocorrência de alcaloides indólicos fora dessa ordem é bastante rara e, quando encontrados, são normalmente alcaloides indólicos simples.
Na família Apocynaceae podem ser encontrados todas classes de alcaloides indólicos monoterpênico. Na família Rubiaceae e Loganiaceae não são encontrados as classes aspidospermatano, eburnano, plumerano, e ibogano.
5. EXTRAÇÃO E PURIFICAÇÃO
5.1. Detecção no vegetal
Alcaloides como já diz o nome, são compostos básicos geralmente solúveis em soluções aquosas ácidas e insolúveis em soluções básicas. Pode-se, então, obter uma fração contendo alcaloides por simples extração ácida-base. Para sua detecção podem ser usados os reagentes normalmente utilizados para detecção de alcaloides como, por exemplo, reagente de Dragendorff, iodoplatinato de potássio ou reagente de Mayer: o reagente de Dragendorff é uma solução de K (Bil4) em ácido diluído e forma precipitados laranja-avermelhado, frequentemente utilizado para detecção em CCD.



5.2. Métodos de extração e purificação
Para extração podem ser utilizados os métodos normalmente usados para outros alcaloides. A fração contendo os alcaloides é normalmente obtida por um procedimento que inclui uma extração ácida-base.
Geralmente, o material seco é extraído com solventes orgânicos ou com água acidificada. Quando a extração é feita com solventes orgânicos imiscíveis com água, como éter e clorofórmio, o material é normalmente alcalinizado com pKa ao redor de 7.
Outra alternativa é a extração do material seco com solventes orgânicos imiscíveis a água como por exemplo etanol ou metanol.
Vários métodos podem ser utilizados para purificação dos alcaloides. O método utilizado com maior frequência é a cromatografia em coluna de gel de sílica através da qual os alcaloides são eluídos com misturas de um solvente polar em um solvente apolar, sendo que a concentração que a concentração do primeiro é aumentada gradativamente.
5.2. 1. CCD-cromatografia em camada delgada
É um método usual para o isolamento de alcaloides indólicos por ser relativamente barato e requerer poucos equipamentos. Além disso, o método é útil para a identificação de compostos conhecidos, presentes em misturas.
5.2. 2. CLAE- cromatografia Liquida de Alta Eficiência
É um excelente método pra a quantificação de alcaloides indólicos. Facilitado pela forte absorção do núcleo indólico na região ultravioleta, o que torna o método bastante sensível. A CLAE pode ser acoplada a um detector de feixe de fotodiodos, o que permite a obtenção de espectros dos compostos detectados no cromatograma.
5.2. 3. CG- Cromatograma Gasosa
Ate recentemente, a CG não era considerado um método adequado para análise e alcaloides indólicos monoterpênicos não-derivatizados, devido ao seu alto peso molecular e baixa volatilidade. Estudos mais recentes mostra que esse método é adequado para a análise de um grande grupo desses compostos. A grande vantagem é a sua alta sensibilidade, alto poder de resolução e a possibilidade de acoplamento fácil a um espectrômetro de massas.
6. ANALISE QUANTITATIVA
Para a análise de alcaloides, são utilizados, tradicionalmente, os seguintes métodos:
·        Isolamento de alcaloides na sua forma básica por uma extração ácida-base. A quantificação pode ser feita por simples pesagem ou por titulação com base após a dissolução dos alcaloides em meio acido.
·        Depois de dissolvido na forma de sal o alcaloide é titulado com hidróxido alcalino usando como indicador fenolftaleína;
·        Titulação com ácido perclórico em ácido acético glacial
·        Devido à absorção característica do núcleo indólico, os alcaloides indólicos podem ser quantificados por espectroscopia no ultravioleta.
7. PROPRIEDADES BIOLÓGICAS
Muitos alcaloides indólicos contem atividade biológica importante. Varias plantas contem estes compostos são, há muito tempo, consideradas tóxicas devido a forte atividade desses compostos. A atividade dos alcaloides indólicos é, geralmente, mediada pela sua interação com um ou mais receptores específicos.
A seguir, serão citados alguns exemplos de alcaloides indólicos e suas respectivas atividades.
Vários alcaloides indólicos como psilocibina, dimetiltriptamina e derivados do humano possuem uma marcante atividade alucinógena.
Alcaloides do tipo humano, especialmente harmina e harmalina, são substancias ativas das espécies de Banisteriopsis como Banisteriopsis caapi. Essas espécies são utilizadas pelos índios na Amazônia. Outros alcaloides atuam no sistema cardiovascular como, por exemplo, esporão-de-centeio.
8. EMPREGO FARMACÊUTICO
As drogas vegetais são raramente utilizadas nas terapias devido as variação do seu conteúdo de seus componentes ativos. Dessa maneira, os alcaloides indólicos são quase sempre utilizados na sua forma purificada, o que possibilita a sua dosagem especifica.
9. PRINCIPAIS DROGAS VEGETAIS
ESPORÃO-DE-CENTEIO
Nome Científico
Claviceps purpúrea
Família Botânica
Clavicipitaceae
Classe
Ascomycetes
Parte Utilizada
Esclerócio recolhido sobre a espiga de centeio

O esporão-de-centeio é uma droga que foi utilizada para acelerar partos até que seus efeitos tóxicos foram reconhecidos, e reservados, então, a partir do século 19, para hemorragias pós-porto.
FAVA-DE-CALABAR

Nome Científico
Physostigma venenosum Balf.
Família Botânica
Leguminosae
Parte Utilizada
Semente
Monografia farmacopéica
Ph. Bras. I



Exemplar de FAVA-DE-CALABAR

A fava-de-calabar é um cipó originário do Golfo da Guiné, cujas sementes eram utilizadas pelos nativos da África Ociedental para decidir o julgamento de criminosos suspeitos. Aqueles que bebiam o extrato aquoso da droga e não morriam eram considerados inocentes – isso só acontecia se a bebida era ingerida a largos goles o que provocava vômito pelo seu efeito irritante.
Dados químicos:
A fisostigmina ou userina é o éster fenólico do ácido N-metilcarbâmico sendo isolada e denominada como tal em 1864 por Jobst e Hesse.
Dados farmacológicos:
Fisostigmina é uma amina terciária, inibidor reversível da acetilcolinesterase, que passa facilmente pela barreira hemeto-encefálica causando efeitos colinérgicos, o que pode ser utilizado para inibir os efeitos centrais e periféricos de agentes colinpergicos (Burks et al,1974).
Emprego terapêutico:
A fisostigmina, devido aos sérios efeitos adversos como ataque cardíaco e parada cardíaca, é atualmente de uso restrito ao emprego na oftalmologia. Ao uso oftálmico estão relacionadas a lacrimação, miose, sensação de queimadura ocular e dor de cabeça. É utilizada, também, para reverter os efeitos da intoxicação grava por anticolinérgicos.
IOIMBE
Nome Científico
Pausinystalia yohimbe Pierre ex Beille
Família Botânica
Ruciaceae
Parte Utilizada
Casca do tronco





CASCA DE IOIMBE

Apresenta 1 a 6% de alcalóides totais, principalmente os alcalóides indólicos do tipo ioimbano, sendo que a ioimbina é majoritária. O cloridrato de ioimbina também é denominado cloridrato de quebrachina ou cloridrato de corinina.
Dados farmacológicos
            A ioimina é um inibidor seletivo dos receptores alfa-2-adrenérgicos. É, portanto, um agente simpatolítico.
Emprego terapêutico
            Tem sido usado no tratamento da impotência masculina e na hipotensão ortostática e ortostática induzida por antidepressivos tricíclicos.

REFERÊNCIA
SIMEÕES, CM.: SCHENKEL, EP.: GOSMANN, G,.: MELO, J.C.P. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 6ª Ed. Porto Alegre: Ed da UFRGS/ Florionópolis: Ed. Da UFSC, 2007.1104p.