1. INTRODUÇÃO
Atualmente,
são conhecidos em torno de 2000 alcaloides indólicos. Essa classe de compostos
pode ser subdividida em dois grupos: o grupo maior com alcaloides conhecidos
como indólicos monoterpênicos, e outro, como os demais alcaloides indólicos. Os
primeiros são, na maioria das vezes, derivados de triptamina e do monoterpeno
(iridóide) secologanina. Apesar de quase todos os membros desse grupo serem
derivados desses dois compostos, diversos rearranjos do esqueleto original resultaram
numa enorme variedade estrutural, com grande numero de centros assimétricos. Consequentemente,
a síntese desses compostos continua sendo um desafio e quase todos os membros
desse grupo na terapêutica ainda são obtidos a partir de extratos vegetais. A
ocorrência desse grupo de alcaloides estar limitada a semente algumas famílias
especificas.
O grupo
menor é muito heterogênio e, com isso, tem ocorrência dispersa e menos
característica do ponto de vista quimiossistemático. Estão enquadrados nesse
grupo os derivados simples do triptofano, como a triptomina e a serotonina e
também os derivados humanos, que contém mais um anel.
2. CLASSIFICAÇÃO
Os
alcaloides indólicos podem ser classificados de acordo com as características
de seu esqueleto, que está diretamente relacionado à sua biogênese.
Em 1965 quando era
conhecido em torno de 350 alcaloides indólicos monoterpênicos, Le Men e Taylor
propuseram um sistema de numeração para esses compostos baseados na sua
biogênese sendo, hoje em dia, sistema de numeração aceito. A numeração
baseia-se no esqueleto da ioimbina.
3. BIOGENÊSE
O
sistema indólico é derivado do aminoácido L-triptofano. O L-triptofano é
descarboxilado pela enzima triptofano-descarboxilase formando triptamina. A
triptamina, bem como seus produtos de metilação e hidroxilação, é amplamente distribuída
no reino vegetal.
Alcaloides
indólicos monoterpênicos são, quase sempre, produtos de condensação da triptamina
com o secoiridóide secologanina, que é formado a partir do monoterpeno
pirofosfato de geranila.
Varias
enzimas que participam da biogênese dos alcaloides indólicos foram estudadas em
detalhe, a triptofano-descarboxilase (TDC) de várias espécies foi isolada e
caracterizada. Essa enzima contem 500 aminoácidos possuindo uma massa molecular
em torno de 56 kDa.
4. QUIMIOTAXONOMIA
A
maioria dos alcaloides indólicos são encontrados em três famílias da ordem
Gentianales: Loganiacae, Apocynaceae e Rubiaceae. Nessa ordem são encontrados
principalmente alcaloides indólicos monoterpênicos. A ocorrência de alcaloides
indólicos fora dessa ordem é bastante rara e, quando encontrados, são
normalmente alcaloides indólicos simples.
Na
família Apocynaceae podem ser encontrados todas classes de alcaloides indólicos
monoterpênico. Na família Rubiaceae e Loganiaceae não são encontrados as
classes aspidospermatano, eburnano, plumerano, e ibogano.
5. EXTRAÇÃO E
PURIFICAÇÃO
5.1. Detecção no vegetal
Alcaloides
como já diz o nome, são compostos básicos geralmente solúveis em soluções
aquosas ácidas e insolúveis em soluções básicas. Pode-se, então, obter uma
fração contendo alcaloides por simples extração ácida-base. Para sua detecção
podem ser usados os reagentes normalmente utilizados para detecção de
alcaloides como, por exemplo, reagente de Dragendorff, iodoplatinato de
potássio ou reagente de Mayer: o reagente de Dragendorff é uma solução de K
(Bil4) em ácido diluído e forma precipitados laranja-avermelhado, frequentemente
utilizado para detecção em CCD.
5.2. Métodos de extração
e purificação
Para
extração podem ser utilizados os métodos normalmente usados para outros
alcaloides. A fração contendo os alcaloides é normalmente obtida por um
procedimento que inclui uma extração ácida-base.
Geralmente,
o material seco é extraído com solventes orgânicos ou com água acidificada.
Quando a extração é feita com solventes orgânicos imiscíveis com água, como
éter e clorofórmio, o material é normalmente alcalinizado com pKa ao redor de 7.
Outra
alternativa é a extração do material seco com solventes orgânicos imiscíveis a
água como por exemplo etanol ou metanol.
Vários
métodos podem ser utilizados para purificação dos alcaloides. O método
utilizado com maior frequência é a cromatografia em coluna de gel de sílica
através da qual os alcaloides são eluídos com misturas de um solvente polar em
um solvente apolar, sendo que a concentração que a concentração do primeiro é
aumentada gradativamente.
5.2. 1. CCD-cromatografia em camada delgada
É um
método usual para o isolamento de alcaloides indólicos por ser relativamente
barato e requerer poucos equipamentos. Além disso, o método é útil para a
identificação de compostos conhecidos, presentes em misturas.
5.2. 2. CLAE- cromatografia Liquida de Alta Eficiência
É um
excelente método pra a quantificação de alcaloides indólicos. Facilitado pela
forte absorção do núcleo indólico na região ultravioleta, o que torna o método
bastante sensível. A CLAE pode ser acoplada a um detector de feixe de fotodiodos,
o que permite a obtenção de espectros dos compostos detectados no cromatograma.
5.2. 3. CG- Cromatograma Gasosa
Ate
recentemente, a CG não era considerado um método adequado para análise e
alcaloides indólicos monoterpênicos não-derivatizados, devido ao seu alto peso
molecular e baixa volatilidade. Estudos mais recentes mostra que esse método é
adequado para a análise de um grande grupo desses compostos. A grande vantagem
é a sua alta sensibilidade, alto poder de resolução e a possibilidade de
acoplamento fácil a um espectrômetro de massas.
6. ANALISE QUANTITATIVA
Para a
análise de alcaloides, são utilizados, tradicionalmente, os seguintes métodos:
·
Isolamento
de alcaloides na sua forma básica por uma extração ácida-base. A quantificação
pode ser feita por simples pesagem ou por titulação com base após a dissolução
dos alcaloides em meio acido.
·
Depois de
dissolvido na forma de sal o alcaloide é titulado com hidróxido alcalino usando
como indicador fenolftaleína;
·
Titulação
com ácido perclórico em ácido acético glacial
·
Devido à
absorção característica do núcleo indólico, os alcaloides indólicos podem ser
quantificados por espectroscopia no ultravioleta.
7. PROPRIEDADES
BIOLÓGICAS
Muitos
alcaloides indólicos contem atividade biológica importante. Varias plantas
contem estes compostos são, há muito tempo, consideradas tóxicas devido a forte
atividade desses compostos. A atividade dos alcaloides indólicos é, geralmente,
mediada pela sua interação com um ou mais receptores específicos.
A
seguir, serão citados alguns exemplos de alcaloides indólicos e suas
respectivas atividades.
Vários alcaloides
indólicos como psilocibina, dimetiltriptamina e derivados do humano possuem uma
marcante atividade alucinógena.
Alcaloides
do tipo humano, especialmente harmina e harmalina, são substancias ativas das
espécies de Banisteriopsis como Banisteriopsis caapi. Essas espécies são
utilizadas pelos índios na Amazônia. Outros alcaloides atuam no sistema
cardiovascular como, por exemplo, esporão-de-centeio.
8. EMPREGO FARMACÊUTICO
As
drogas vegetais são raramente utilizadas nas terapias devido as variação do seu
conteúdo de seus componentes ativos. Dessa maneira, os alcaloides indólicos são
quase sempre utilizados na sua forma purificada, o que possibilita a sua
dosagem especifica.
9. PRINCIPAIS DROGAS
VEGETAIS
ESPORÃO-DE-CENTEIO
Nome Científico
|
Claviceps
purpúrea
|
Família Botânica
|
Clavicipitaceae
|
Classe
|
Ascomycetes
|
Parte Utilizada
|
Esclerócio recolhido sobre a espiga de
centeio
|
O
esporão-de-centeio é uma droga que foi utilizada para acelerar partos até que
seus efeitos tóxicos foram reconhecidos, e reservados, então, a partir do
século 19, para hemorragias pós-porto.
FAVA-DE-CALABAR
Nome Científico
|
Physostigma venenosum
Balf.
|
Família Botânica
|
Leguminosae
|
Parte Utilizada
|
Semente
|
Monografia farmacopéica
|
Ph.
Bras. I
|
Exemplar de FAVA-DE-CALABAR
A fava-de-calabar é um cipó originário
do Golfo da Guiné, cujas sementes eram utilizadas pelos nativos da África
Ociedental para decidir o julgamento de criminosos suspeitos. Aqueles que
bebiam o extrato aquoso da droga e não morriam eram considerados inocentes –
isso só acontecia se a bebida era ingerida a largos goles o que provocava
vômito pelo seu efeito irritante.
Dados químicos:
A fisostigmina ou userina é o éster
fenólico do ácido N-metilcarbâmico
sendo isolada e denominada como tal em 1864 por Jobst e Hesse.
Dados farmacológicos:
Fisostigmina é uma amina terciária,
inibidor reversível da acetilcolinesterase, que passa facilmente pela barreira
hemeto-encefálica causando efeitos colinérgicos, o que pode ser utilizado para
inibir os efeitos centrais e periféricos de agentes colinpergicos (Burks et
al,1974).
Emprego terapêutico:
A fisostigmina, devido aos sérios
efeitos adversos como ataque cardíaco e parada cardíaca, é atualmente de uso
restrito ao emprego na oftalmologia. Ao uso oftálmico estão relacionadas a
lacrimação, miose, sensação de queimadura ocular e dor de cabeça. É utilizada,
também, para reverter os efeitos da intoxicação grava por anticolinérgicos.
IOIMBE
Nome Científico
|
Pausinystalia yohimbe Pierre
ex Beille
|
Família Botânica
|
Ruciaceae
|
Parte Utilizada
|
Casca
do tronco
|
CASCA DE IOIMBE
Apresenta 1 a 6% de alcalóides totais,
principalmente os alcalóides indólicos do tipo ioimbano, sendo que a ioimbina é
majoritária. O cloridrato de ioimbina também é denominado cloridrato de quebrachina
ou cloridrato de corinina.
Dados farmacológicos
A
ioimina é um inibidor seletivo dos receptores alfa-2-adrenérgicos. É, portanto,
um agente simpatolítico.
Emprego terapêutico
Tem sido
usado no tratamento da impotência masculina e na hipotensão ortostática e
ortostática induzida por antidepressivos tricíclicos.
REFERÊNCIA
SIMEÕES, CM.: SCHENKEL, EP.: GOSMANN,
G,.: MELO, J.C.P. Farmacognosia: da
planta ao medicamento. 6ª Ed. Porto Alegre: Ed da UFRGS/ Florionópolis: Ed.
Da UFSC, 2007.1104p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário