quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Alcalóides Indólicos

1. INTRODUÇÃO
Atualmente, são conhecidos em torno de 2000 alcaloides indólicos. Essa classe de compostos pode ser subdividida em dois grupos: o grupo maior com alcaloides conhecidos como indólicos monoterpênicos, e outro, como os demais alcaloides indólicos. Os primeiros são, na maioria das vezes, derivados de triptamina e do monoterpeno (iridóide) secologanina. Apesar de quase todos os membros desse grupo serem derivados desses dois compostos, diversos rearranjos do esqueleto original resultaram numa enorme variedade estrutural, com grande numero de centros assimétricos. Consequentemente, a síntese desses compostos continua sendo um desafio e quase todos os membros desse grupo na terapêutica ainda são obtidos a partir de extratos vegetais. A ocorrência desse grupo de alcaloides estar limitada a semente algumas famílias especificas.
O grupo menor é muito heterogênio e, com isso, tem ocorrência dispersa e menos característica do ponto de vista quimiossistemático. Estão enquadrados nesse grupo os derivados simples do triptofano, como a triptomina e a serotonina e também os derivados humanos, que contém mais um anel.
2. CLASSIFICAÇÃO
Os alcaloides indólicos podem ser classificados de acordo com as características de seu esqueleto, que está diretamente relacionado à sua biogênese.
Em 1965 quando era conhecido em torno de 350 alcaloides indólicos monoterpênicos, Le Men e Taylor propuseram um sistema de numeração para esses compostos baseados na sua biogênese sendo, hoje em dia, sistema de numeração aceito. A numeração baseia-se no esqueleto da ioimbina.
3. BIOGENÊSE
O sistema indólico é derivado do aminoácido L-triptofano. O L-triptofano é descarboxilado pela enzima triptofano-descarboxilase formando triptamina. A triptamina, bem como seus produtos de metilação e hidroxilação, é amplamente distribuída no reino vegetal.
Alcaloides indólicos monoterpênicos são, quase sempre, produtos de condensação da triptamina com o secoiridóide secologanina, que é formado a partir do monoterpeno pirofosfato de geranila.
Varias enzimas que participam da biogênese dos alcaloides indólicos foram estudadas em detalhe, a triptofano-descarboxilase (TDC) de várias espécies foi isolada e caracterizada. Essa enzima contem 500 aminoácidos possuindo uma massa molecular em torno de 56 kDa.
4. QUIMIOTAXONOMIA
A maioria dos alcaloides indólicos são encontrados em três famílias da ordem Gentianales: Loganiacae, Apocynaceae e Rubiaceae. Nessa ordem são encontrados principalmente alcaloides indólicos monoterpênicos. A ocorrência de alcaloides indólicos fora dessa ordem é bastante rara e, quando encontrados, são normalmente alcaloides indólicos simples.
Na família Apocynaceae podem ser encontrados todas classes de alcaloides indólicos monoterpênico. Na família Rubiaceae e Loganiaceae não são encontrados as classes aspidospermatano, eburnano, plumerano, e ibogano.
5. EXTRAÇÃO E PURIFICAÇÃO
5.1. Detecção no vegetal
Alcaloides como já diz o nome, são compostos básicos geralmente solúveis em soluções aquosas ácidas e insolúveis em soluções básicas. Pode-se, então, obter uma fração contendo alcaloides por simples extração ácida-base. Para sua detecção podem ser usados os reagentes normalmente utilizados para detecção de alcaloides como, por exemplo, reagente de Dragendorff, iodoplatinato de potássio ou reagente de Mayer: o reagente de Dragendorff é uma solução de K (Bil4) em ácido diluído e forma precipitados laranja-avermelhado, frequentemente utilizado para detecção em CCD.



5.2. Métodos de extração e purificação
Para extração podem ser utilizados os métodos normalmente usados para outros alcaloides. A fração contendo os alcaloides é normalmente obtida por um procedimento que inclui uma extração ácida-base.
Geralmente, o material seco é extraído com solventes orgânicos ou com água acidificada. Quando a extração é feita com solventes orgânicos imiscíveis com água, como éter e clorofórmio, o material é normalmente alcalinizado com pKa ao redor de 7.
Outra alternativa é a extração do material seco com solventes orgânicos imiscíveis a água como por exemplo etanol ou metanol.
Vários métodos podem ser utilizados para purificação dos alcaloides. O método utilizado com maior frequência é a cromatografia em coluna de gel de sílica através da qual os alcaloides são eluídos com misturas de um solvente polar em um solvente apolar, sendo que a concentração que a concentração do primeiro é aumentada gradativamente.
5.2. 1. CCD-cromatografia em camada delgada
É um método usual para o isolamento de alcaloides indólicos por ser relativamente barato e requerer poucos equipamentos. Além disso, o método é útil para a identificação de compostos conhecidos, presentes em misturas.
5.2. 2. CLAE- cromatografia Liquida de Alta Eficiência
É um excelente método pra a quantificação de alcaloides indólicos. Facilitado pela forte absorção do núcleo indólico na região ultravioleta, o que torna o método bastante sensível. A CLAE pode ser acoplada a um detector de feixe de fotodiodos, o que permite a obtenção de espectros dos compostos detectados no cromatograma.
5.2. 3. CG- Cromatograma Gasosa
Ate recentemente, a CG não era considerado um método adequado para análise e alcaloides indólicos monoterpênicos não-derivatizados, devido ao seu alto peso molecular e baixa volatilidade. Estudos mais recentes mostra que esse método é adequado para a análise de um grande grupo desses compostos. A grande vantagem é a sua alta sensibilidade, alto poder de resolução e a possibilidade de acoplamento fácil a um espectrômetro de massas.
6. ANALISE QUANTITATIVA
Para a análise de alcaloides, são utilizados, tradicionalmente, os seguintes métodos:
·        Isolamento de alcaloides na sua forma básica por uma extração ácida-base. A quantificação pode ser feita por simples pesagem ou por titulação com base após a dissolução dos alcaloides em meio acido.
·        Depois de dissolvido na forma de sal o alcaloide é titulado com hidróxido alcalino usando como indicador fenolftaleína;
·        Titulação com ácido perclórico em ácido acético glacial
·        Devido à absorção característica do núcleo indólico, os alcaloides indólicos podem ser quantificados por espectroscopia no ultravioleta.
7. PROPRIEDADES BIOLÓGICAS
Muitos alcaloides indólicos contem atividade biológica importante. Varias plantas contem estes compostos são, há muito tempo, consideradas tóxicas devido a forte atividade desses compostos. A atividade dos alcaloides indólicos é, geralmente, mediada pela sua interação com um ou mais receptores específicos.
A seguir, serão citados alguns exemplos de alcaloides indólicos e suas respectivas atividades.
Vários alcaloides indólicos como psilocibina, dimetiltriptamina e derivados do humano possuem uma marcante atividade alucinógena.
Alcaloides do tipo humano, especialmente harmina e harmalina, são substancias ativas das espécies de Banisteriopsis como Banisteriopsis caapi. Essas espécies são utilizadas pelos índios na Amazônia. Outros alcaloides atuam no sistema cardiovascular como, por exemplo, esporão-de-centeio.
8. EMPREGO FARMACÊUTICO
As drogas vegetais são raramente utilizadas nas terapias devido as variação do seu conteúdo de seus componentes ativos. Dessa maneira, os alcaloides indólicos são quase sempre utilizados na sua forma purificada, o que possibilita a sua dosagem especifica.
9. PRINCIPAIS DROGAS VEGETAIS
ESPORÃO-DE-CENTEIO
Nome Científico
Claviceps purpúrea
Família Botânica
Clavicipitaceae
Classe
Ascomycetes
Parte Utilizada
Esclerócio recolhido sobre a espiga de centeio

O esporão-de-centeio é uma droga que foi utilizada para acelerar partos até que seus efeitos tóxicos foram reconhecidos, e reservados, então, a partir do século 19, para hemorragias pós-porto.
FAVA-DE-CALABAR

Nome Científico
Physostigma venenosum Balf.
Família Botânica
Leguminosae
Parte Utilizada
Semente
Monografia farmacopéica
Ph. Bras. I



Exemplar de FAVA-DE-CALABAR

A fava-de-calabar é um cipó originário do Golfo da Guiné, cujas sementes eram utilizadas pelos nativos da África Ociedental para decidir o julgamento de criminosos suspeitos. Aqueles que bebiam o extrato aquoso da droga e não morriam eram considerados inocentes – isso só acontecia se a bebida era ingerida a largos goles o que provocava vômito pelo seu efeito irritante.
Dados químicos:
A fisostigmina ou userina é o éster fenólico do ácido N-metilcarbâmico sendo isolada e denominada como tal em 1864 por Jobst e Hesse.
Dados farmacológicos:
Fisostigmina é uma amina terciária, inibidor reversível da acetilcolinesterase, que passa facilmente pela barreira hemeto-encefálica causando efeitos colinérgicos, o que pode ser utilizado para inibir os efeitos centrais e periféricos de agentes colinpergicos (Burks et al,1974).
Emprego terapêutico:
A fisostigmina, devido aos sérios efeitos adversos como ataque cardíaco e parada cardíaca, é atualmente de uso restrito ao emprego na oftalmologia. Ao uso oftálmico estão relacionadas a lacrimação, miose, sensação de queimadura ocular e dor de cabeça. É utilizada, também, para reverter os efeitos da intoxicação grava por anticolinérgicos.
IOIMBE
Nome Científico
Pausinystalia yohimbe Pierre ex Beille
Família Botânica
Ruciaceae
Parte Utilizada
Casca do tronco





CASCA DE IOIMBE

Apresenta 1 a 6% de alcalóides totais, principalmente os alcalóides indólicos do tipo ioimbano, sendo que a ioimbina é majoritária. O cloridrato de ioimbina também é denominado cloridrato de quebrachina ou cloridrato de corinina.
Dados farmacológicos
            A ioimina é um inibidor seletivo dos receptores alfa-2-adrenérgicos. É, portanto, um agente simpatolítico.
Emprego terapêutico
            Tem sido usado no tratamento da impotência masculina e na hipotensão ortostática e ortostática induzida por antidepressivos tricíclicos.

REFERÊNCIA
SIMEÕES, CM.: SCHENKEL, EP.: GOSMANN, G,.: MELO, J.C.P. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 6ª Ed. Porto Alegre: Ed da UFRGS/ Florionópolis: Ed. Da UFSC, 2007.1104p.


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