INTRODUÇÃO
Alcaloides
tropânicos apresentam em comum uma estrutura bicíclica, denominada tropano
8-metil-8-azabiciclo(2,3,1octano).O anel tropano é formalmente constituído pelos
anéis pirrolidina e piperidina.Dependendo da orientação alfa e beta de um
grupamento hidroxila na posição C-3,este fornece dois isômeros geométricos:
tropanol (tropina) e pseudotropanol ( tropanol ou pseudotropina).
A
esterificação do grupo hidroxila com ácidos aromáticos origina os alcaloides de
maior importância farmacêutica e podem ser encontrados nas famílias Solonaceae
(tipo atropina) e Erythroxylaceae (tipo cocaína). Os dois tipos de alcaloides
são importantes na terapêutica atual e historicamente construíram os protótipos
a partir dos quais foram desenvolvidos análogos sintéticos, principalmente das
classes de fármacos anticolinérgicos e anestésicos locais.
ALCALOIDES
DE SOLANACEAE E ERYTHROXYLACEAE
Preparados
de beladona já eram do conhecimento dos antigos hindus e tem sido usados pelos
médicos por muitos séculos. Na época do império Romano e na idade média, era
designada como planta da sombra da noite e frequentemente usada para envenenamentos.
Como importância do grupo lembrar na terapêutica, é importante lembrar que os
alcaloides tropânico derivados do tropanol inibem as ações da acetilcolina em
efetores autônomos inervados pelos nervos pós-ganglionares colinérgicos. São
conhecidos como substâncias antimuscarínicas ou bloqueadores de receptores
muscarínicos colinérgicos. A cocaína só está presente em Erythroxylon coca
Lam.e Erythroxylon novogranatense (Morris) Hieron.var.truxileense, com
variedades domesticadas. As formas nativas das de hoje cultivadas não são mais
conhecidas.
BIOGÊNESE
São
conhecidas cerca de 40 alcaloides tropânicos, sendo em sua maioria derivados da
pirrolidina como: higrina, cuscoigrina e os principais atropina, hiosciamina,
escopolamina e cocaína.
A
formação do anel pirrolidínico ocorre através dos aminoácidos arginina ou
ornitina que formam o sal N-metil-delta1-pirrolíneo.Esse sal, por sua vez,
responsável pelo átomo de nitrogênio dos
alcaloides, condensa-se com duas moléculas de ácido acético ativo (
acetoacetato ) formando o ácido cetocarbônico N-metil-delta1-pirrolíneo (I),
completando, assim, o anel piperridínico que, por descarboxilição,forma a
D-(+)-higrina(II).A partir da estrutura (I) pode-se formar a ecgonina ou o
pseudotropanol,enquanto que a partir da
estrutura (II) pode-se formar o tropanol, ou ainda, os alcaloides menor
importância como: higrolina e o bicíclico cuscoigrina. Pode-se observar, ainda,
que a formação da hiosciamina, atropina, escopolamina e cocaína, tem a mesma
origem biogenética e bem definida. A interconversão de bases tropânicas in vivo
foi verificada em Datura ferox L.Alimentando a planta livre de alcaloides com
6,7 deshidroiosciamina, foi formada hioscina. Híbridos de Datura stramonium L.
(contendo principalmente hiosciamina) e D.ferox L. têm no broto uma enzima que
causa epoxidação e que está ativa durante todo o período vegetativo, a qual
transforma a hiosciamina em escopolaminna.
Outro componente
importante na biogênese dos alcaloides tropânicos é o ácido trópico (ácido
alfa-fenil-beta-hidróxi-propiônico), que deriva da fenilalanina, através de uma
desaminação oxidativa e deslocamento 2,3 do grupo carboxílico.Grande parte dos
estudos recentes da origem biogenética do ácido trópico foi baseada em cultura
de raízes. As culturas são obtidas por infecção da superfície ligeiramente
danificada da folha ou do caule estéril de plantas produtoras de ácido trópico,
como Datura stramonium L., com uma suspensão de bactéria patogênica,
Agrobacterium rhizogenes. A bactéria insere nas células da planta uma pequena
porção de DNA (Ri-DNA), o qual estimula a divisão celular, provocando a formação
da raiz. As raízes emergentes podem ser removidas, tratadas por antibiótico,
para eliminar as bactérias remanescente, e cultivadas em meio liquido estéril.
As
culturas não são apropriadas para todos os estudos. Em Datura stromonium L., a
escopolamina é o produto em maior quantidade na folhas, mais somente traços
desse alcaloide são recuperados de cultura de raízes. Em outras espécies, como
Hyoscyamus muticus L. ou um híbrido de espécies de Brugmansia, a escopolamina
se acumula em cultura de raízes, como o alcaloide majoritário. O requerimento
chave para o uso de cultura de raízes, é que esse tecido deve ser o local de
biogênese do vegetal. Estudos em cultura de raízes demonstram que, apesar de fenilalanina,
fenilpiruvato e fenillacetato serem incorporados na metade éster tropato de
hiosciamina, (R)- fenil lactato é o estereoisômero utilizado durante a
biogênese do éster trópico. Existem evidência de que o éster tropínico de
(R)-fenilacetato, litorina, sofre rearranjo in vivo para hiosciamina. O
esqueleto tropânico é originário de ornitina, acetato e metionina. Os quatros
átomos de carbono, C1, C5, C6 e C7 e o átomo de nitrogênio da tropina derivam
da ornitina. Os três átomos de carbono restantes, C2, C3 e C4 são provenientes
do acetato.
Litorina
e hiosciamina são encontradas conjuntamente em espécies de Datura e outras
Solanáceas produtoras de alcalóides. Como verificado anteriormente, em diversos
experimentos, houve indicação de que a litorina é um precursor da hiosciamina.
Segundo pesquisas
estudaram a seleção natural dos dois alcalóides existentes em maior porcentagem
nas folhas de Datura stramonium L. Existem evidências de que insetos herbívoros
atuam como agentes de seleção para esses alcalóides. Foi verificada uma seleção
natural negativa para escopolamina, isto é, a seleção natural atuando no
sentido de diminuir o teor de escopolamina, e mantendo um teor intermediário de
hiosciamina.
OCORRÊNCIAS
E QUIMIOTAXONOMIA
Os
alcaloides tropânicos de Datura (Datura stramonium L.) foram introduzidos na
medicina européia por imigrantes romanos. A família Solanaceae é considerada o
lar dos alcaloides tropânicos. As drogas contendo alcaloides tropânicos foram
utilizadas por suas propriedades alucinógenas, incorporando-se no folclore como
bruxaria. O maior espectro de alcaloides tropânicos é encontrado em
representantes da tribo Datureae, nos gêneros Datura e Brugmansia. Atropa
beladona L., pertencente a tribo Solaneae, é uma espécie muito estudada,
possuindo como alcaloides principais hiosciamina, escopolamina e apoatropina.
Apesar de o gênero Solanum não conter os alcaloides tropânicos usuais, a
presença de calistegina A3 juntamente com calistegina B2 foi verificadas nas
folhas de algumas de suas espécies, tais como Solanum tuberosum L., Solanum
dulcamara L. e Solanum melongena L.
Os
alcaloides do grupo da higrina, tropina, cuscoigrina e nicotina são bastante
característicos da família Solanaceae. Em muitas espécies, após brotamento,
pode haver transposição e transformação, como epoxidação. Em outras, os
alcaloides encontram-se praticamente só nas raízes, indicando uma deposição nas
mesmas ou uma decomposição no broto. De acordo com Shonle e Bergelson, os
alcaloides tropânicos são sintetizados nas raízes e acumulados nos vacúolos.
Alcaloides
tropânicos isolados de várias espécies das famílias Convolvulaceae,
Dioscoreaceae, Erythroxylaceae e Solanaceae, exibem a mesma estrutura básica.
Todos são ésteres de ácidos orgânicos (atrópico, benzoico, cinâmico,
isovalérico, d-metilbutírico, tíglico, trópico, truxílico e verátrico)
combinados com uma série de hidraminas bicíclicas (metilecgonina, nortropina,
pseudotropina, escopina, tropina e outros). Esses alcaloides estão presentes em
alguns dos 85 gêneros da família Solanaceae, destacando-se Atropa, Datura, Duboisia, Mandragora e Scopolia, sendo
encontrados, porém, em menor números, nas famílias Erythroxylaceae,
Convolvulaceae e Dioscoreaceae. Todas as espécies possuem misturas de
alcaloides trpânicos, principalmente com hiosciamina e escopolamina, nas folhas
e sementes, enquanto que as flores e raízes apresentam misturas mais complexas
de ésteres tropínicos e de outros derivados tropânicos.
Hyoscyamus niger L.
é vegeta-oficial em minutos países e conhecido há muito como espécie contendo
hiosciamina e escopolamina. Hyoscyamus
muticus L., que contém uma teor mais elevado de alcaloides, principalmente
hiosciamina e tetrametilputrescina, também é utilizado farmaceuticamente. Todas
as espécies estudadas do gênero contém hiosciamina e escopolamina em folhas e
sementes.
A
literatura sobre química, biogênese, fisiologia e farmacologia de Solonaceae,
contendo alcaloides tropânicos e nicotínicos é muito ampla, encontra-se
literatura específica em Hegnauer.
O
gênero Erythroxylon possui cerca de 200 espécies, distribuídas nas regiões
tropicais da América do Sul e da ilha de Madagascar. A cocaína encontra-se nas
folhas de Erythroxylon coca Lam e nas variedades domesticadas como a var.
spruceanum Bruck, também conhecida como coca-do-eru ou coca-de-java e em Erythroxylon novogranatense (Morris)
Hieros var.truxillense, denominada
coca-da-colônia (coca–truxilo).
Defesas
químicas em insetos, particularmente lepidópteros, contra predadores, têm sido
observada desde o século XIX. Substâncias como alcaloides tropânicos podem ser
sequestrada da planta hospedeira larval, obtidas de fontes vegetais visitadas
por adultos ou biossintetizadas de novo. Alcaloides tropânicos foram
encontradas em larvas e adultos de Placidula
euryanasa, tenso sido sequestrada da planta hospedeira das larvas, Brugmasia suaveolens. A larva de Miraleria cymothoe, que se alimentava do
mesmo hospedeiro, excreta aqueles alcaloides.
PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICA
E QUÍMICA
Entre
os alcaloides das Solanáceas destacam-se, pela importância terapêutica atual, a
escopolamina e a hiosciamina. Esta é o isômero levórigo formando a partir do
ácido (-) trópico. A atropina é o composto racêmico, isto é, (RS)-hiosciamina,
que par
ece
não existir na planta fresca. Durante a colheita, secagem e, principalmente,
extração, a (RS)- hiosciamina transforma-se facilmente em atropina, a qual, por
sua vez, pode ser transformada em apoatropina, pela perda de uma molécula de
água. Embora possa ser obtida por síntese, a atropina ainda é obtida a partir
de fontes naturais. Na forma de base livre, é obtida como cristais incolores e
apresenta baixa solubilidade em água, sendo solúvel em etanol e em clorofórmio.
Apresenta reação alcalina em soluções saturadas, alcançando PH 9,5. A base
livre é utilizada em veículos oleosos, no entanto, devido a melhor solubilidade
e estabilidade, é utilizada, principalmente, na forma de sulfato. Este é
preparado neutralizando atropina,em acetona ou éter, como solução de H2S04,
cuidadosamente, para prevenir a hidrólise.
A escopolamina é o estereoisômero
levorotatório, isto é, (S)-(-) escopolamina (hiosciamina); em meio alcalino
ocorre a racemização, resultando na mistura denominada atroscina. A tendência a
racemização, no entanto é menor do que com a hiosciamina. Na forma de base
livre, é um liquido viscoso solúvel em água. Forma um mono-hidrato cristalino,
de ponto de fusão 59ºC. É utilizada também na forma de bromidrato e
butilbrometo.
EXTRAÇÃO
E CARACTERIZAÇÃO DOS ALCALOIDES
Os
alcaloides tropânicos são muito semelhantes nas suas características
físico-químicas. Por serem animais terciárias, possuem um comportamento
semelhante ao da maioria das alcaloides, ou seja, são solúveis, como base
livres, em solventes apolares e, na forma de sais, em solventes polares. É
conhecido que os alcaloides, de maneira geral, encontram-se no vegetal fresco,
combinados como ácidos fracos, portanto, solúveis em água. A transformação
sal-base é o processo mais comum utilizado para purificação inicial,
objetivando a determinação qualitativa e quantitativa. Caso os alcaloides
tropânicos sejam extraídos como bases livres a partir dos sais, não devem ser
adicionadas bases fortes, pois os ésteres podem ser saponificados ou ainda,
podem provocar racemização, como na hiosciamina, transformando-a em atropina.
A extração por fluido supercrítico é
um método bastante utilizado para a extração de metabólitos secundários, a
partir de matrizes sólidas, como material vegetal. Representa uma alternativa
para a extração sólido-líquido tradicional, como por Soxhlet, com menor consumo
de solvente e temperatura. A cocaína já foi extraída por fluido supercrítico em
amostras de cabelo. Brachet et al.(1999) utilizaram a extração por fluido
supercrítico, como modificador polar, para obtenção de hiosciamina e
escopolamina a partir de cultura de raízes de Datura candida (Pers.) Saff. X Datura
aurea (Lagerh.) Saff. E de cocaína,
a partir de Erythroxylon coca Lam. Var. coca.
Para a detecção de cocaína pode ser
realizada um reação de coloração com tiocianato de cobalto. Uma solução de
Co(CNS)2 a 2% em glicerina-água desenvolve uma coloração azul. Existem métodos biológicos, que
entretanto são pouco utilizados na rotina da indústria farmacêutica. A midríase
é característica dos alcaloides tropânicos, sendo que uma quantidade de 0,002
mg de atropina, injetada subcutaneamente em camundongos, provoca dilatação da
pupila.
ATIVIDADES FARMACOLÓGICAS E
BIOLÓGICAS
Os
alcaloides da beladona são absorvidos rapidamente a partir da trato
gastrointestinal. Penetram na circulação sanguínea quando aplicados topicamente
nas mucosas. Na pele intacta sua absorção é apenas limitada. A maior parte da
atropina é excretada na urina nas primeiras doze horas após sua administração,
em parte, inalterada, no entanto, os efeitos oculares podem persistir por
alguns dias.
Os alcaloides tropânicos inibem as
ações da acetilcolina em efetores autônomos inervados pelos nervos
pós-ganglionares colinérgicos, bem como na musculatura lisa, que é desprovida
de inervação colinérgica. Os agentes muscarínicos, de maneira geral, têm pouco
efeito sobres as ações da acetilcolina em receptores nicotínicos. Na junção
neuromuscular, na qual os receptores são nicotínicos, são necessárias doses
extremamente altas de alcaloides tropânicos para produzir algum grau de
bloqueio. É provável que a maioria dos efeitos dos alcaloides tropânicos no SNC
em doses usuais seja atribuível ás suas ações antimuscarínicas centrais. Em
doses altas ou tóxicas, os efeitos centrais dos referidos alcaloides consistem,
em geral, de estimulação seguida por depressão. Pequenas doses deprimem as
secreções salivar, brônquica e as sudoreses. Com doses maiores, há dilatação da
pupila, a capacidade de acomodação do olho é inibida e os efeitos vagais sobre
o coração são bloqueados, o que ocasiona o aumento da frequência cardíaca.
Doses maiores inibem o controle parassimpático da bexiga e do trato
gastrointestinal, dificultando a micção e diminuindo o tônus muscular e a
motilidade intestinal. Doses ainda maiores são necessárias para inibir a
secreção e a motilidade gástrica.
As
ações antimuscarínica da atropina e da escopolamina diferem quantitativamente.
A escopolamina tem ação mais potente sobre a íris, o corpo ciliar e certas
glândulas secretoras (salivares, brônquicas e sudoríparas), sendo a atropina
mais potente no coração, nos intestinos e músculos bronquiolares, além de ter
ação mais prolongada. No entanto, a ação no sistema nervoso central é
marcadamente diferenciada: enquanto a escopolamina provoca depressão, a
atropina não deprime o SNC em doses usadas clinicamente, portanto, é preferida
á escopolamina na maioria das situações. Quando algum efeito central não é
desvantajoso ou, até mesmo, desejável, como em medicação pré-anestésica, a
escopolamina é frequentemente administrada.
A atropina, no SNC, estimula a
medula espinal e os centros cerebrais superiores. A escopolamina, em doses
terapêuticas, normalmente causa sonolência, euforia, amnésia, fadiga e sono sem
sonhos. As substâncias atropínicas dilatam a pupila (midríase) e paralisam a
acomodação (cicloplegia).
Drogas antimuscarínicas têm sido
amplamente empregadas no tratamento da úlcera péptica. Aparecem como efeitos
colaterais secura da boca, perda de acomodação visual, fotofobia e dificuldade
na micção. É difícil estabelecer a utilidade dos antimuscarínicos no tratamento
da úlcera péptica.
Os alcaloides tropânicos e seus
substitutos sintéticos reduzem a salivação excessiva, como a associada ao
envenenamento por metais pesados ou parkinsonismo.
EMPREGO
FARMACÊUTICO
Medicamento
contendo alcaloide tropânico são utilizados para diminuição de cólicas nos
ureteres e aquelas provocadas por cálculos renais; em espasmos brônquicos, nos
caso de asma brônquica. São também utilizados em espasmos do trato
gastrointestinal, portanto, contra cólicas e em hipersecreção gástrica. Esse
grupo de substância também tem uso como anestésico local, por atuar na
dessensibilização das terminações nervosas. Em função de sua ação
antiespasmódica, os alcaloides tropânicos são utilizados em colites e
gastroenterites. A ação antissecretora permite o uso na redução da secreção
respiratória, como medicação pré-anestésica, e das secreções nasais, em
alergia. Também são utilizados como antídotos em envenenamentos por inibidores
da colinesterase, como por inseticidas organofosforados e carbamatos. A par da
utilização dos alcaloides isolados, principalmente atropina e escopolamina e
seus derivados semissintéticos, existe um número significativos de produtos
contendo extratos vegetais das plantas desse grupo. Especificamente como a
beladona, no Catálogo Brasileiro de Produtos Farmacêuticos, da Secretaria
Nacional de Vigilância Sanitária, editado em 1984, eram mencionados 248
produtos.
O sulfato de atropina é um sal
solúvel, disponível sob as formas de comprimidos, solução injetável e solução
oftálmica. A dose média, por via oral ou parenteral de sulfato de atropina,
para adultos, é de 0,5 mg. A escopolamina é comercializada sob a forma de sal
solúvel, o bromidrato de escopolamina; a dose para adultos, por via oral ou
parenteral, é de 0,6 mg. A escopolamina também pode ser usada sob a forma de
solução oftálmica.
Existem observações clínicas de que
os compostos de amônio quaternário têm efeito relativamente maior na atividade
gastrointestinal e que as doses necessárias para tratar distúrbios do tudo
digestivo são, portanto, mais facilmente toleráveis; esse fato deve-se ao
bloqueio ganglionar adicional. Tanto os alcaloides de amônio quaternário, como
a atropina, não produzem controle adequado da secreção gástrica ou da
motilidade gastrintestinal, em doses que não apresentam efeitos colaterais
significativos, por bloqueio muscarínico. A cocaína atualmente só é utilizada
terapeuticamente como anestésico local.
DROGAS VEGETAIS
BELADONA
Nome científico: Atropa beladona L.
Família botânica: Solanaceae
Parte usada: folhas e sumidades floridas
Monografias farmacopeias: está escrita nas
Farmacopeias de praticamente todos os países; a Ph. Eur. III e as farmacopeias
de países europeus apresentam também monografia para o pó normatizado das
folhas.
A beladona provavelmente já era conhecida
pelos povos antigos, não existindo relatos exatos até o início do Século XVI.
As folhas foram introduzidas na London
Pharmacopeia de 1809. O nome Atropa lembra
uma das parcas da mitologia grega, que era encarregada de interromper o fio da
vida dos mortais e a designação popular Bella
Donna, vem da Itália, onde as mulheres utilizavam o sumo dos frutos que,
por serem midriáticos, aumentavam o tamanho da pupila, tornando-as mais
bonitas.
Atropa beladona L. é um
arbusto perene, com 0,5 a 1,5 m de altura, existente principalmente na Europa
Central e Sul. O cultivo ocorre principalmente na Alemanha, Inglaterra, Índia e
Estados Unidos.
A droga da Farmacopeia Brasileira consiste de
todas as partes aéreas, mas Ph. Eur. III estabelece um limite máximo de 3% de
caules de diâmetro maior que 5 mm, enquanto que a USP 23 admite o mesmo
percentual, mas para caules com diâmetro maior que 10 mm. Esta última também
admite Atropa acuminata Lindl. Na
monografia de folhas de beladona e exige 0,35% de alcaloides, enquanto a
Farmacopeia Brasileira e Ph. Eur. III determinam um teor mínimo de 0,3% de
alcaloides totais calculados como hiosciamina. Tanto a Ph.Eur. III como a USP
23 incluem monografias para o pó normatizado das folhas, com teor de alcaloides
totais entre 0,28 e 0,32%. Raízes também estão inscritas em algumas
farmacopeias. As raízes do primeiro ano não devem ser coletadas, porque não são
comercialmente viáveis, apesar de terem um teor elevado de alcaloides, sendo
recomendada a coleta a partir do terceiro ano.
Dados
químicos:
As folhas de Atropa belladona L. contêm em média 0,30 a 0,50 % de alcaloides,
sendo o principal hiosciamina. Pequena quantidade de bases voláteis, como
nicotina, piridina e N-metilpirrolina estão presentes, bem como glicosídeos
flavônicos e as cumarinas escopoletina e escopolina. São encontrados, também,
higrina, higrolina, cuscoigrina, tropinona, tropina, pseudotropina e nove
ésteres de tropanol. Além destes,
encontra-se beladonima (um produto de degradação, derivado da condensação da
apoatropina). A relação hiosciamina-escopolamina é de 20:1, sendo as folhas de
beladona pobres em escopolamina, o que as diferenciam do estramônio e
meimendro, que possuem um teor maior em escopolamina.
Dados
farmacológicos e toxicológicos:
A droga, tanto partes aéreas como raiz, tem ação antiespasmódica sobre a
musculatura lisa do TGI, vesícula biliar e bexiga, além de diminuir as
secreções. Em doses elevadas é estimulante do SNC, podendo induzir o indivíduo
ao coma profundo. A ação estimulante sobre o SNC deve-se ao maior teor de
hiosciamina em relação á escopolamina.
A
beladona é conhecida como uma espécie altamente tóxica, tendo sido empregada
como veneno desde de tempos antigos. Todas as partes da planta devem ser
consideradas tóxicas. No entanto, as intoxicações de modo geral ocorrem pela
ingestão dos frutos pretos, atraentes e de sabor doce, principalmente pelas
crianças, para as quais 3 a 4 frutos são considerados letais.
Efeitos adversos e
precauções de uso:
Como os alcaloides tropânicos têm ação anticolinérgica, em qualquer
efeito desejado, poderão ocorrer as outras ações do simpático como efeitos
colaterais.
A
droga e suas preparações são contraindicadas em taquicardia, arritmias, adenoma
de próstata, glaucoma, edema de pulmão, estenose no trato gastrintestinal e
megacolon. Com efeitos colaterais surgem secura da boca, diminuição das
secreções sudoríparas, dificuldade de acomodação visual, vermelhidão e secura
da pele, hipertermia, taquicardia, dificuldade de micção, alucinações e
câimbras (principalmente em sobredose).
ESTRAMÔNIO
Nome cientifico: Datura stramonium L.
Família botânica: Solanaceae
Parte usada: folhas e sumidades floridas
Monografias farmacopeicas: está inscrita nas
Farmacopeias de praticamente todos os países; a Ph. Eur. III e as farmacopeias
de países europeus apresentam também monografia para o pó normatizado das
folhas.
Datura é um gênero com cerca de 11
espécies, originárias da América Central. Algumas espécies são utilizadas como
alucinógenas, especialmente em ritos mágicos e religosos, por indígenas
americanos.
Datura stramonium é um arbusto ruderal
anual, crescendo em solos ricos em nitrogênio, atingindo uma altura de até 2 m,
originário da América Central, provavelmente do México, encontrando-se
assilvestrado na Europa e nas Américas. No Brasil recebe as denominações
populares estramônio, figueira-do-inferno, erva-do-diabo e figueira-brava. A
maioria da droga vem hoje da Rússia e dos países balcânicos. São utilizadas as
seguintes variedades, consideradas de teor equivalente em alcaloides:
Datura stramonium var. stramonium, de flor branca e fruto
espinhoso;
Datura stramonium var. tatula (L.) Torr, de flor violeta e
fruto espinhoso;
Datura stramonium var. inermis (Jacq.) Timm, de flor branca e
fruto liso;
Datura stramonium var. godroni Danert, de flor violeta e fruto
liso. A droga possui odor fraco, desagradável e sabor amargo.
Dados químicos:
A droga (folhas de estramônio) não deve conter menos de 0,25% de
alcaloides, calculados em hiosciamina.
O
estramônio contém, em média, o,2 a 0,6% de alcaloides, sendo que a proporção
entre os principais alcaloides hiosciamina e hioscina (escopolamina) é de 2:1.
Os caules maiores contêm pequena quantidade de alcaloides, sendo que a droga
oficial não deve conter mais de 3% de caules com mais de 5 mm de diâmetro.
Sementes de estramônio contêm cerca de 0,2% de alcaloides tropânicos e
aproximadamente 15 a 30% de óleo fixo. De acordo com Ph.Eur.III, o pó final
deve ser ajustado para um teor de alcaloides de 0,23 a 0,27%.
Dados
farmacológicos e toxicológicos:
Em função da presença dos mesmos alcaloides, hiosciamina e escopolamina,
as ações da droga são semelhantes ás referidas para a beladona.
Intoxicações
acidentais são de ocorrência rara, por não serem os frutos e folhas de aspecto
atraente, ocorrendo, no entanto, pelo uso intencional para suicídio ou
envenenamentos ou ainda como alucinógenos. Em função das presença dos
alcaloides hiosciamina e escopolamina, os sintomas de intoxicação.
TROMBETEIRA
Nome
científico: Brugmansia suaveolens
Sinonímia
científica: Datura suaveolens
Família
botânica: Solanaceae
Parte
usada: folhas
Brugmansia suaveolens é
uma espécie originária da América do Sul tropical, sendo conhecida em cultivo e
utilizada no Brasil como ornamental. É conhecida como trombeteira-cheirosa,
cartucheira, sai-de-velha, trombeta e saia-branca, sendo considerada como uma
fonte potencial de alcaloides tropânico.
O
teor de alcaloides tropânico varia de 0,36 a 0,56%. Como o teor de escopolamina
é bem maior que o de hiosciamina, todas as ações farmacológicas e tóxicas serão
devidas àquele alcaloide, os efeitos são os mesmos relatados para Datura stramonium L.
MEIMENDRO
Nome científico: Hyoscyamus niger L.
Família botânica: Solanaceae
Parte usada: folhas e sumidades floridas
O
meimendro já era conhecido por Dioscórides e utilizado pelo antigos. A espécie
era empregada contra dores do trato gastrintestinal e na antiga Babilônia.
Depois de um período de esquecimento, no século XVIII a droga foi reintroduzida
na London farmacopeia, de 1809. No
Brasil, recebe as denominações populares meimendro-negro e erva-dos-cavalos. A
espécie é uma erva anual ou bianual, nativa na Europa, Ásia e Norte da África;
Também largamente cultivada e naturalizada em partes da América do Norte é
empregada principalmente em espasmos do trato gastrintestinal, sendo os efeitos
indesejados e precauções semelhantes aos apontados para a beladona.
Dados químicos:
De acordo com a Ph. Eur. III, folhas do meimendro devem conter no mínimo
0,05%, e o pó normatizado entre 0,05 e 0,07% de alcaloides totais, predominando
hiosciamina e escopolamina. A relação entre os dois alcaloides é de ordem de
1,2:1. Estão presentes flavonoides, principalmente rutina e cerca de 8% de
taninos.
Dados farmacológicos
e toxicológicos:
O meimendro é semelhante a beladona e o estramônio em sua ação, porém mais
tênue, devido ao menor teor de alcaloides tropânico. Intoxicações são
relatadas, em crianças, mais menor frequência em relação a á beladona, porque a
planta é, em geral, evitada pelo seu odor e consistência desagradável.
COCA
Nome científico: Erythroxylon coca Lam. E Erythroxylon
novogranatense
Família botânica: Erythroxylaceae
Parte usada: folha
Erythroxylon coca Lam. É a fonte da
folhas de coca comercial de onde toda cocaína é derivada. O cultivo ocorre nas
zonas montanhosas do leste dos Andes, praticamente não existindo fora dessa
região, em um ambiente tropical favorável, com alto índice pluviométrico, clima
ameno e solo rico em minerais e muito bem drenado. A coca andina é cultivada a
partir de sementes e as folhas são coletadas a pós dois a três anos. As folhas
contêm entre 0,23 e 0,96% de cocaína. A coca colombiana, Erythroxylon novogranatense, adapta-se a locais quentes e secos e
de menor altitude. O teor médio de cocaína de coca colombiana é de 0,47%. A sua
variedade constitui a coca-de-trijillo, existente no comércio, e está bem
adaptada a condições de deserto. Suas folhas contêm até 1% de cocaína, sendo
ricas em salicílato de metila, o que torna essa variedade muito agradável em
bebidas. A coca-da-Amazônia, Erythroxylon
coca Lam, ocorre no Oeste da Amazônia, sendo cultivada e utilizada por
grupos nativos do Peru, Brasil e Colômbia.
A
importância dessas espécies e variedades está relacionada com a presença da
cocaína a qual foi isolada pela primeira vez por Niemann em 1860, que notou um
sabor amargo e um efeito particular na língua tornando-a insensível e quase
destituída de sensação. E de se registrar que a Coca-Cola e algumas outras
bebidas continham cocaína até 1904, quando o uso da mesma foi proibido
Dados químicos:
A espécie Erythroxylon coca
Lam, contêm 0,2 a 0,8% de alcaloides sendo 90% cocaína. Esses alcaloides podem
ser subdivididos em três, destes, somente a ecgonina possui importância
comercial.
A
extração da cocaína segue basicamente os métodos de extração dos alcaloides.
Obtêm-se a pasta de coca e a cocaína pura, através de etapas subsequentes de
purificação. Para identificação da cocaína pode ser utilizada a reação de
tiocianato de cobalto e a hidrólise me meio ácido, quando ocorre a formação de
ácido benzoico, comprovado após sua cristalização em meio aquoso e benzoato de
metila, detectado pelo odor. Como ensaio de pureza, as farmacopeia preconizam a
verificação da presença do enantiômero levogiro, através da determinação da
rotação específica e verificação da presença de cinamoilcocaína, através de
teste para compostos redutores (solução de permanganato de potássio). Este
permite detectar, também, anestésicos locais sintéticos derivados do ácido
4-aminobenzóico, eventualmente utilizados como adulterantes da cocaína.
Dados
farmacológicos:
A cocaína é absorvida de todas as membranas e mucosas. A meia vida da
cocaína no plasma é de, aproximadamente 1 hora. Aplicada localmente localmente,
bloqueia o início da condução do impulso nervoso. A diminuição do apetite também
se deve a ação anestésica local.
A cocaína é um estimulante potente do sistema
nervoso central, os seus efeitos estimulantes estão relacionados a sua
habilidade de inibir o transportador da dopamina, ligado a membrana (DAT). Ela
inibe a monoaminoxidase (MAO), aumentando a noradrenalina e a serotonina,
causando, portanto midríase e vasoconstrição periférica, mantendo o anestésico
mais tempo no local.
Além
das ações citadas, a cocaína inibe a recaptura de catecolaminas nas terminações
adrenérgicas; Esse processo é o principal responsável pela estimulação do
sistema cardiovascular e do SNC. No início ocorre uma sensação de bem estar e
euforia. Após pequenas quantidades de cocaínas, a atividade motora é bem
coordenada; com o aumento da dose podem ocorrer tremores e crises convulsivas.
O centros vasomotor e do vômito podem também participar da estimulação
provocando emese. Dose de 50mg de cocaína, por via oral, já provoca alucinações
que rapidamente é seguida por depressão. Os centros medulares vitais são
deprimidos, resultando em morte por insuficiência respiratória
Dados
toxicológicos e outras informações:
A cocaína por via endovenosa pode causar morte imediata por
insuficiência cardíaca, devido a ação tóxica direta sobre o músculo cardíaco.
A absorção da cocaína aumenta na presença de
processos inflamatórios, havendo uma acentuação dos efeitos sistêmicos do
fármacos. Após a absorção a cocaína é degradada pelas esterases plasmáticas e,
em alguns animais, pelas enzimas hepáticas. Pequenas quantidades são excretadas
inalteradas na urina em doses elevadas ocorre paranoia, ansiedade,
comportamento estereotipado, alucinações visuais, auditivas e táteis.
A
par da importância cultura e como droga de abuso neste século, historicamente a
cocaína exerceu papel decisivo para o desenvolvimento dos medicamentos
anestésicos locais, constituindo-se em protótipo dessa classes de fármacos.
Atualmente, o uso da cocaína e seus sais, devido á potencial toxicidade e à
disponibilidade de anestésicos locais de menor risco, está quase que completamente
restrito à cirurgia oftálmica, de ouvido, nariz e garganta, e ainda assim,
restrito devido ao potencial de abuso.
REFERÊNCIAS
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L., CHERKAOOUI, S.; CHRISTEN.P.; GAUVRIT, J.-Y.;
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DURAN-PATRON, R.; O’
HAGAN, D.; HAMILTON, J.T.G.; WONG, C. W. Biosynthetic studies
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EVANS, W.C. Trease and evans’
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